1499 – O BRASIL ANTES DE CABRAL – REINALDO JOSÉ LOPES

quinta-feira, setembro 07, 2023

 


Comecei a leitura esperando encontrar uma história e acabei encontrando outra. Uma surpresa muito agradável, por sinal, já que “1499 – O Brasil antes de Cabral” aborda temas muito anteriores ao ano de descobrimento do país. Com muitos termos técnicos, mas cheio de bom humor para tentar simplificar e fazer qualquer leitor compreender o contexto apesar de, o jornalista Reinaldo José Lopes nos leva a uma viagem no tempo, para ser mais exata à pré-história.

 

De acordo com um conjunto de estudos arqueológicos, o Brasil antes de Cabral não era apenas uma longa extensão de mato povoada por índios, mas tinha populações densas, tradições artísticas espetaculares, “superaldeias” que mais pareciam metrópoles perdidas em plena Amazônia, grandes monumentos, redes de comércio e uma organização de sociedades.

 

Começamos a narrativa com a chegada dos seres humanos no território brasileiro, as descendências dos povos nativos atuais, a descoberta do crânio de Luzia (o fóssil humano mais antigo encontrado no interior de Minas Gerais), o surgimento da agricultura na Amazônia e a chamada “terra preta”, as sociedades pré-históricas que se estenderam da Amazônia até o litoral, as comunidades criadoras dos sambaquis, sítios arqueológicos construídos há mais de 7 mil anos de formação calcária e montanhosa.

 

Passamos pelos estudos de ossadas da megafauna encontrada nessa região como as preguiças gigantes, os tigres dente-de-sabre, os tatus gigantes, os toxodontes, animal parecido com o hipopótamo e as macrauquênias, uma mistura de lhama com tromba de anta. Aprendemos também sobre o surgimento das florestas antropogênicas, o manejo e o cultivo de vegetais nativos da região amazônica e das plantas domesticadas como a mandioca, a pupunha, o abacaxi e o cacau.

 

Visitamos a Ilha de Marajó, no Pará, e conhecemos a cultura dos antigos marajoaras que aproveitavam as condições ambientais e a topografia da região e criaram morros artificiais para formarem lagos rasos que garantiam uma grande variedade de peixes durante as cheias. os Tapajós também possuíam ampla diversidade de cultura material, abrangendo artefatos em madeira, algodão e cerâmica. No atual território do Amapá, a cultura Maracá tem instigado pesquisadores, tanto por conta do sítio com estruturas megalíticas quanto das grutas descobertas com grandes quantidades de urnas funerárias antropomórficas ricas em detalhes. No Alto Xingu, as estruturas das aldeias pré-históricas descritas eram compostas de enormes áreas circulares, aproximadamente dez vezes maior que as aldeias atuais da mesma região. Elas possuíam áreas com lavouras de milho, mandioca, pequi e outros cultivos, assim como florestas manejadas nas proximidades da região habitada. Os antigos xinguanos dispunham de lagos artificiais e armadilhas nos cursos dos rios.

 

Reinaldo descreve a diversidade linguística dos povos nativos e como ela está representada hoje. É estimado que no contato inicial com os europeus havia cerca de 1.500 línguas nessa região. Relata sobre a cultura e a distribuição dos povos falantes dessas línguas, as relações entre eles, com o ambiente e com os europeus. Comportamentos diplomáticos, com relativo pacifismo, habilidades de navegação, boas redes de trocas, alianças matrimoniais intergrupos, generosidade e habilidade de fala se contrapõem a comportamentos de agressividade, com ideologia bélica, rituais antropofágicos e a dominação de novos territórios com ciclos intermináveis de vingança.

 

Por fim vemos como uma região habitada por cerca de 8 milhões de pessoas não impediu a colonização ou por que essa colonização não ocorreu de outra forma. Entre os maiores culpados estão as reações biológicas que levaram às epidemias, o contato dos nativos com muitos dos micro-organismos trazidos pelos europeus e seus animais causou devastações populacionais generalizadas nos grupos nativos, muito mais do que a presumível superioridade bélica dos portugueses e espanhóis e o uso da cavalaria.

 

Encerramos a leitura bombardeados de informações sobre nosso passado e a saga dos primeiros povos do nosso território citando o último parágrafo de Reinaldo: “A pré-história é a chave para entender a importância dessas condições iniciais e para demonstrar – como espero ter demonstrado – que o passado profundo do Brasil é tão rico e complexo quanto o do Velho Mundo. Em nome dos que são herdeiros dele, convém não esquecê-lo” .


1499 – O BRASIL ANTES DE CABRAL

PÁGINAS: 248

AUTOR: REINALDO JOSÉ LOPES

EDITORA: HARPER COLLINS

 

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