TUDO É RIO – CARLA MADEIRA

quinta-feira, dezembro 19, 2024


 

Como nas últimas resenhas venho contando como cada título tem chegado até mim, “Tudo é rio”, de Carla Madeira, assim como os outros títulos da autora, também chegou graças a uma visita ao sebo e livraria A Degustadora de Histórias, aqui em Ribeirão Preto, durante uma entrevista que gravei com a Melissa. Como já disse em outra publicação anterior, esse ano decidi que colocaria mais obras escritas por mulheres e estava muito curiosa para ler algo de uma autora brasileira que já vendeu milhares de cópias, com certeza algo muito bom estaria me esperando entre as páginas de seus livros.

 

A narrativa contém dois opostos, o famoso “8 ou 80”, de uma brutalidade sem tamanho e ao mesmo tempo de uma delicadeza sem igual, principalmente como livro de estreia. Quando escolhi as três obras de Carla para ler, me aconselharam a começar com “Tudo é rio”, não me lembro o motivo, mas após finalizar a leitura, acredito que seja pelo primeiro impacto. A história mal começa e você já entende que essa não será uma narrativa qualquer.

 

Dalva e Venâncio é um jovem casal vivendo o auge de sua paixão. Com o apoio da família e dos amigos, o casal que a cidade viu se formar, com tantos sonhos e planos, se transforma em uma família. Eles foram feitos um para o outro, é o que todos pensavam ao ver de longe a relação dos dois, mas nem todo amor é um conto de fadas e, por baixo de tanto amor, nas camadas mais profundas, a obsessão e o ciúme nasceram em Venâncio.

 

No início do casamento tudo era compreensível, afinal de contas a combinação da imaturidade e da paixão às vezes resultava nas atitudes exageradas de Venâncio. Mas para Dalva o amor que sentia por ele e a lembrança dos dias bons sempre falavam mais alto. Até que não falou mais, e calou.

 

De repente, tudo muda.  “A loucura começa como a doença, miúda. Vai se alastrando célula a célula, ocupando tudo, destruindo a saúde, acabando com a vida de quem não encontra recurso para deter os pensamentos ruins, fazedores dos mais profundos infernos”. E o que parecia impossível acontecer, acontece, e tudo vira escuridão.

 

Após o nascimento e a perda do filho, Dalva e Venâncio vê um abismo crescer entre eles, transfigurados, e em uma solidão compartilhada, mas cada um sentindo e digerindo a sua própria dor, eles vão em busca de um refúgio, individualmente. Todos os dias pela manhã, Dalva sai de casa e volta somente à noite, sem ninguém imaginar aonde vai. Em contrapartida e menos criativo, Venâncio passa a frequentar o prostíbulo da cidade onde conhece Lucy, a prostituta mais cobiçada da casa, exceto por Venâncio.

 

Sempre cheia de si e capaz de dar prazer a todo e qualquer homem que cruza seu caminho, Lucy vê Venâncio como um prêmio a ser conquistado, já que suas artimanhas são incapazes de fazer o homem sequer olhar para ela, quem dirá tocá-la, e ele não tinha o direito de colocar sua reputação em risco desse jeito. Uma jovem decidida, que trabalha como prostituta por gosto e com orgulho, seu sucesso entre os homens é sua maior realização profissional.

 

Esse é um romance tão cheio de drama e, apesar de surpreender, traz a possibilidade de acontecer na realidade, nunca sabemos até que ponto as emoções podem surtir efeitos nas pessoas. A leitura, como em um rio, às vezes calmo, às vezes na correnteza que leva tudo com força, vai mesclando o passado e o presente dos personagens, entrelaçando cada vez mais a vida deles.

 

Carla dá voz a personagens femininas fortes, como Aurora, mãe de Dalva, e Francisca, antiga amiga da família, ambas de extrema importância na vida de Dalva, que apóiam e orientam com sabedoria, ternura e com muita coragem. Dalva também é uma mulher e mãe forte e resiliente, apesar de não ter se recuperado tão rapidamente da perda do filho, mas por ter superado e ir se recompondo, dia após dia, apesar de.

 

É palpável, já nas primeiras páginas, a dor de Dalva, assim como os desejos de Lucy, e como a história vai se desenrolando e como ela termina deixa, em cada leitor, um ponto de vista e muitas questões em aberto a serem esclarecidas. Durante a leitura compreendemos que, às vezes, fazemos o que podemos, o que está ao nosso alcance, e nos questionamos sobre a força do amor, da fé, do perdão, da confiança e da coragem.

 

Essa com certeza é uma história que acredito que todos deveriam ler, todos que tenham um pouco de estômago para certos choques, já que o drama não acerta todo mundo da mesma maneira. Ela precisa ser degustada, já que contém muitas camadas. Martha Medeiros disse que esse “é um daqueles livros que, ao ser terminado, dá vontade de começar de novo, no mesmo instante, desta vez para se demorar em cada linha, saborear cada frase, deixar-se abraçar pela poesia da prosa”.

 

Não vou discordar dela, mas para mim, “Tudo é rio” precisou fluir como o próprio nome diz, e ainda bem que tive “A natureza da mordida” para não me deixar entrar em ressaca literária. Mas essa é uma conversa para outro texto!

 

Você já conhecia essa história? Já leu ou ficou curioso (a) pra ler?

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A gente se encontra no próximo post!

 

TUDO É RIO

PÁGINAS: 210

AUTOR: CARLA MADEIRA

EDITORA: RECORD

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