1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil – LAURENTINO GOMES

quinta-feira, setembro 21, 2023

 


Em 2014, durante o último ano da faculdade de jornalismo, tive o imenso prazer de apresentar a palestra que Laurentino Gomes fez durante a semana acadêmica do curso. Foi a primeira vez que ouvi falar do autor, que também é jornalista, e de suas obras. Há dez anos coloquei seus livros na minha lista e hoje finalmente finalizei a leitura.

 

“1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil” é o primeiro livro da trilogia que englobam também as obras “1822” e “1889”, e como fica claro em seu subtítulo é uma leitura que narra a história da família real portuguesa e da mudança da corte para o Brasil no fatídico ano.

 

Com o objetivo de fugir das tropas de Napoleão Bonaparte que estavam invadindo Portugal, o então príncipe regente D. João VI e a família real, além milhares de acompanhantes, entre eles pessoas da nobreza, conselheiros reais, militares, juízes, advogados, comerciantes e suas famílias, entre outros, abandonaram Portugal e transferiram a sua corte para a colônia. Era um grupo enorme, entre 10 mil e 15 mil pessoas, principalmente se levarmos em conta que na época a capital Lisboa tinha 200 mil habitantes. O número pode variar, já que o embarque foi feito às pressas e muitos nomes não foram catalogados.

 

A obra aborda o impacto que a chegada da família real portuguesa causou no desenvolvimento do Brasil, ressaltando aspectos históricos, políticos, sociais e culturais. Denominado como Período Joanino, e surpreendendo esta jovem leitora que desconhecia o nome, os anos entre 1808 e 1821, que foi o período em que a família real portuguesa permaneceu em terras brasileiras, retrata o momento em que o Brasil se tornou Reino Unido com Portugal e Algarves.

 

Feita às pressas, a fuga foi desafiadora para os tripulantes. No começo do século XIX as viagens marítimas eram consideradas uma aventura muito perigosa, por isso exigiam uma preparação demorada e cuidadosa, devido às tempestades, aos ataques surpresas dos corsários que infestavam o Atlântico, as doenças e os naufrágios. Há duzentos anos, os navios eram cápsulas de madeira lacradas, desenhados para impedir a infiltração da água do mar e sobreviver às violentas tempestades oceânicas. Logo, ter uma tripulação tão grande era estar sujeito a não chegar ao destino final.

 

Com pequenas escotilhas que permaneciam fechadas a maior parte do tempo, tornando o ambiente asfixiante e sem ventilação, piorando sob o sol equatorial que transformava as embarcações em saunas flutuantes. Não havia água corrente nem banheiros, com o calor a água apodrecia logo, contaminada por fungos e bactérias, os depósitos de mantimentos eram infestados de ratos e baratas, e a falta de frutas e alimentos frescos ocasionavam na deficiência de vitaminas, enfraquecendo e adoentando os tripulantes. A travessia era realmente um risco a se correr e o estado que a família real chegou ao Brasil foi deplorável.

 

Com o objetivo de consolidar algumas das principais conquistas da Revolução Francesa, Napoleão tinha como objetivo principal romper de uma vez por todas os laços entre portugueses e ingleses e com a economia da Inglaterra ao bloquear os principais portos de Portugal, o chamado Bloqueio Continental, decretado pelo general francês em 1807.

 

A narrativa destaca ainda a situação deplorável em que o povo português ficou com a fuga da corte, deixando os portugueses à mercê do exército francês, completamente abandonados e indefesos. Na manhã do dia 30 de novembro de 1807, dia seguinte à partida da família real, um pequeno terremoto sacudiu a cidade de Lisboa. “Entre 1807 e 1814, Portugal perdeu meio milhão de habitantes, um sexto da população pereceu de fome ou nos campos de batalha ou simplesmente fugiu do país”.

 

D. João era um príncipe regente medroso e isso influenciou todas as suas decisões durante seu reinado. Ele teria chances de vencer as tropas francesas que estavam cansadas, famintas e praticamente destruídas devido à falta de planejamento e estratégia de seu comandante, o general Jean Andoche Junot. Oficial de segunda linha, dos 25 mil soldados que deixaram a França, 700 já tinham morrido sem entrar em combate.

 

Voltando ao Brasil, os portugueses tentaram impor à colônia algumas mudanças, copiando as estruturas das construções de Portugal, os costumes, as formas de se portar, a culinária, entre outras, mas para os brasileiros não foi tão fácil se adequar aos costumes dos portugueses. Apesar de investir no crescimento e nas melhorias do país, a escravidão predominava no comércio local. Os esforços de D. João para melhorar os meios de comunicação e transporte, as estradas e criar a unificação de um exército forte facilitaram ainda mais o comércio de escravos.

 

Quando a corte portuguesa chegou ao Brasil, os navios negreiros que vinham da costa da África, descarregavam no Mercado do Valongo, o mercado negreiro no Rio de Janeiro, entre 18 mil e 22 mil homens, mulheres e crianças por ano. “Entre os séculos XVI e XIX, cerca de 10 milhões de escravos africanos foram vendidos para as Américas. O Brasil, maior importador do continente, recebeu quase 40% desse total, algo entre 3,6 milhões e 4 milhões de cativos, segundo estimativas pela maioria dos pesquisadores”.

 

Apesar de indeciso e inseguro, D. João tinha planos grandiosos para o Brasil, sendo responsável por inúmeras ações que trouxeram o desenvolvimento, civilidade e cultura e que foram de grande importância para a criação do país.

 

A narrativa de Laurentino, assim como a de Pedro Doria e Reinaldo José Lopes, simplifica os textos acadêmicos, tornando a leitura de fácil entendimento, visto que é preciso também focar no contexto da história. Essa com certeza é uma trilogia essencial para os apaixonados por História, principalmente para nós brasileiros entendermos a base de desenvolvimento que o Brasil teve e como o passado afeta sim o presente. Ou como diz a passagem citada pelo autor de Christopher Lee “As pessoas fazem a História, mas raramente se dão conta do que estão fazendo”.

 

1808: COMO UMA RAINHA LOUCA, UM PRÍNCIPE MEDROSO E UMA CORTE CORRUPTA ENGANARAM NAPOLEÃO E MUDARAM A HISTÓRIA DE PORTUGAL E DO BRASIL

PÁGINAS: 416

AUTOR: LAURENTINO GOMES

EDITORA: PLANETA

 

 

 

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