Helena – Machado de Assis

terça-feira, dezembro 14, 2021

 


Uma das leituras mais gostosas que fiz nos últimos meses, “Helena”, de Machado de Assis, apresentou um final completamente injusto e o mais ingrato que li até hoje. Após passada a frustração inicial, compreendi a lógica do autor, mas ainda acredito que poderia ter um final diferente.

 

Publicado em 1876, “Helena” pertence ao período romântico machadiano, primeira fase do escritor. A narrativa tem início em abril de 1850, quando o conselheiro Vale morre de uma apoplexia fulminante, também conhecida como derrame cerebral, enquanto cochilava. A morte chegou de forma tão instantânea que a família sequer teve tempo de chamar o amigo Dr. Camargo para socorrer, muito menos o padre Melchior para dar as consolações da religião.

 

No dia seguinte ao enterro do conselheiro, um dos mais concorridos visto pelos moradores do Andaraí, já que ele ocupava alto lugar na sociedade, seu testamento foi aberto com todas as formalidades legais. Sua família era formada pelo seu filho Estácio, de 27 anos, e sua irmã solteira, D. Úrsula, com seus cinquenta e poucos anos. Conhecedor dos pecados do amigo, Dr. Camargo preveniu os familiares de que um erro do passado do conselheiro viesse à tona com a abertura do testamento que poderia causar uma lacuna ou um grande excesso.

 

Para Camargo houve então um excesso da parte do falecido, um excesso generoso de ternura, pois o amigo reconhecia uma filha natural, até então desconhecida da família, de nome Helena, que teve com D. Ângela e que estava sendo educada em um colégio de Botafogo. Ela era herdeira de metade de seus bens e sua exigência era que ela passasse a viver com a família e recebesse carinho como se fosse filha de seu matrimônio. D. Úrsula reprovou a atitude do irmão, já Estácio cuidou de tudo para que Helena viesse assim que acabassem os estudos para a chácara em Andaraí.

 

Helena era uma moça de dezesseis a dezessete anos, estatura um pouco acima da média, delgada sem magreza, talhe elegante e atitudes modestas. As linhas puras e severas de seu rosto pareciam que haviam sido traçadas com a arte religiosa. O rosto era de um moreno-pêssego, de cabelos e olhos castanhos. Já na casa, tenta conquistar a todos com seu jeito carinhoso. Resistente, D. Úrsula não prometeu a Estácio que seria afetuosa com Helena, mas também não a destrataria. Mas depois de precisar de cuidados por causa de sua saúde, passa a enxergar Helena como uma sobrinha dedicada. As duas acabam se aproximando e a tia que antes era fria, acaba se tornando uma defensora de Helena, cumprindo o papel de uma mãe.

 

Com um espírito aventureiro, Helena pede que seu irmão lhe ensine a montar a cavalo, e com isso os dois se aproximam cada vez mais por causa dos passeios matutinos. No entanto, Estácio se afasta cada dia mais de sua noiva, Eugênia, filha de Camargo, pois não enxerga nela qualidades comparáveis as de Helena. Assim, Eugênia se torna uma pessoa sem graça para ele.

 

Um belo dia Estácio recebe uma carta de seu amigo Mendonça que volta ao Rio de Janeiro após uma longa viagem pelo mundo. Sempre presente em Andaraí, Mendonça acaba se apaixonando por Helena e pede ajuda ao padre Melchior para pedir a mão da moça em casamento. Já com o consentimento de Helena e com a benção do padre, Mendonça pede a mão da moça a Estácio.  Movido por um ciúme inexplicável que sente por Helena, Estácio acha um absurdo o pedido de casamento do amigo e usa como desculpa Mendonça não ser um bom pretendente, já que sua situação financeira não era tão boa quanto à de Helena, e quando recusa o pedido do amigo acaba causando uma grande intriga.

 

Incapaz de compreender a natureza de sua fúria e do ciúme que sente por Helena, Estácio ouve do padre Melchior o que guardava no coração, mas que sua alma era incapaz de pronunciar: Estácio estava apaixonado por Helena.  Mas depois de muita conversa e de ouvir os conselhos do padre Melchior, já que tal sentimento ia contra as leis do homem e de Deus, Estácio acaba aceitando o pedido de Mendonça, que concorda com o casamento mesmo agora acreditando que realmente não é digno da mão de Helena. E no meio de tanta confusão, Estácio descobre um segredo que Helena guarda e que pode mudar completamente o destino e os planos da família do conselheiro.

 

Um dos clássicos de Machado de Assis, “Helena” conta a história de um amor de alma que passa a ser nutrido tanto por Estácio quanto por Helena quando eles se conhecem, mas que era impossível ser vivido e aceito pela sociedade já que era proibido, mesmo depois de Estácio descobrir a verdade sobre Helena, ocasionando uma pequena reviravolta na história, tornando o conselheiro Vale, na minha opinião, culpado por não permitir que esse amor seja vivido pelos personagens devido ao excesso de ternura que cometeu quando assumiu a moça como filha.

 

Me diz se você já leu essa narrativa e qual a sua opinião sobre essa história de amor impossível.

A gente se vê no próximo post, até lá!

 

HELENA

AUTOR: MACHADO DE ASSIS

EDITORA: PENGUIN & COMPANHIA DAS LETRAS

PÁGINAS: 280

 

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