A cidade e as serras – Eça de Queirós

quinta-feira, dezembro 09, 2021

 

 

“A cidade e as serras” foi para mim uma das leituras mais complicadas dos últimos meses, talvez por falta de atenção da minha parte, talvez porque a narrativa seja mesmo um pouco confusa, mas a minha experiência com o título é que a história não me fisgou até mais da metade do livro. No entanto, acabei entrando na narrativa e me permiti viajar pelo interior das serras de Portugal.

 

Considerado um dos livros mais divertidos de Eça de Queirós, “A cidade e as serras” foi escrito na fase final da vida do autor português, publicado em 1901, um ano após o falecimento de Eça. É uma narrativa irônica, principal característica de seu estilo, que fala sobre o progresso e as novidades da ciência e da tecnologia no século XIX.

 

Narrado em primeira pessoa por José Fernandes, sua teoria é de que a vida no campo é superior à vida urbana. Para isso, acompanhamos a vida de seu amigo Jacinto, chamado carinhosamente de “Príncipe” pelo amigo Zé. Herdeiro de uma grande fortuna e de propriedades agrícolas na região do Baixo Douro, em Portugal, Jacinto nasceu em Paris, em um palácio nos Campos Elísios, e adorava a cidade.

 

Jacinto e Zé Fernandes se conheceram na Universidade em Paris, mas por motivos familiares eles se separaram. Durante sete anos, Zé Fernandes se dedicou à administração da propriedade rural de sua família em Guiães, nas serras portuguesas. A fim de tirar um tempo para descansar, resolve voltar a Paris para rever o amigo e o encontra muito diferente da vivacidade que tinha na juventude, mais entristecido e corcunda.

 

Indo contra seu estado de espírito e causando espanto a Zé Fernandes, Jacinto tinha transformado seu palacete nos Campos Elísios em uma verdadeira demonstração de sua fórmula juvenil, se equipando dos maiores avanços tecnológicos da época e de uma vasta biblioteca. Para Jacinto, a capital francesa era o exemplo perfeito de civilização, o único espaço em que o ser humano poderia ser plenamente feliz.

 

Sobre os telhados do número 202 havia um mirante envidraçado com um telescópio, havia também exemplares de telefone e fonógrafo, as antigas lâmpadas passaram a ser acesas com gás e um elevador foi instalado mesmo o palácio tendo apenas dois andares. Jacinto passara a colecionar vários aparelhos e engrenagens com uma mecânica suntuosa, como uma máquina de escrever e uma imensa máquina de calcular, e apesar de haver conforto, para ele ainda faltava muito para a humanidade.

 

Jacinto era infeliz, suas amizades com pessoas da alta sociedade parisiense eram falsas e superficiais, a tecnologia que o cercava ainda era falha e os livros que lia causavam aborrecimento. Após receber a notícia de um desabamento em sua propriedade em Tormes, localidade próxima a Guiães, Jacinto decide ir até lá. Durante alguns meses organiza de Paris a reforma do lugar e acompanhado com Zé Fernandes parte para suas terras. 

 

Surpreso com o atraso e a rusticidade de Tormes na primeira impressão, aos poucos a natureza encanta Jacinto e ele resolve ficar mais do que o planejado. Reencontrando sua antiga disposição, ele se dedica a algumas reformas na propriedade, melhorando as condições de vida dos empregados e estabelecendo com eles novas relações de trabalho. 

 

Após se apaixonar por Joaninha, prima de Zé Fernandes, Jacinto se instala definitivamente nas serras portuguesas, e da modernidade parisiense, permite apenas a instalação do telefone acreditando ser algo útil para a propriedade e seu conforto. Indo contra sua ideia perfeita de civilização, Jacinto encontra a felicidade bem distante da cidade e faz Zé Fernandes comprovar sua tese de que a vida no campo é superior à vida urbana.

 

Vemos em “A cidade e as serras” a análise de que a necessidade de tecnologia e erudição de Jacinto o levaram ao tédio e à infelicidade, já que sua tecnologia funciona precariamente e a erudição nada mais é do que modismo. A fartura lhe traz melancolia e uma angústia existencial, e sua juventude só renasce com a vida nas serras, trazendo de volta seu entusiasmo e seu ponto de equilíbrio, preservando as tradições serranas e convivendo também com a modernidade.

 

Comenta aqui em baixo se você já leu essa história e o que você achou.

A gente se vê no próximo post, até lá!

 

A CIDADE E AS SERRAS

AUTOR: EÇA DE QUEIRÓS

EDITORA: ATELIÊ EDITORIAL

PÁGINAS: 336

 

You Might Also Like

0 comentários