Dom Casmurro – Machado de Assis
quinta-feira, dezembro 02, 2021Afinal de contas, traiu ou não traiu?
Essa é uma pergunta que já li muito e nunca
soube responder, porque infelizmente ainda não conhecia “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. Hoje já posso dar a minha
opinião.
Clássico da literatura brasileira, há anos é
analisado em várias salas de aulas, e ainda uma das escolhas constantes como
leitura obrigatória para os maiores vestibulares do país, o romance “Dom Casmurro” foi publicado em 1899 e
narra a história de amor de Bentinho e Capitu.
Vivendo sozinho no auge de sua velhice em sua
casa no Engenho Novo, Bentinho, o personagem principal, decide escrever um
livro e nada melhor do que narrar sua própria vida. O ano inicial da história é
1857. Amigos desde muito pequenos, Bentinho e Capitu viviam com suas famílias em
dois sobrados vizinhos na antiga Rua de Matacavalos, no Rio de Janeiro. Quando
o pai é eleito deputado, a família Santiago se muda da fazenda de Itaguaí para
o Rio de Janeiro trazendo com eles o agregado José Dias.
Após a morte de Pedro de Albuquerque
Santiago, dona Maria da Glória Fernandes Santiago vende a fazenda e os escravos,
comprando outros para uso pessoal e outros para alugar, uma dúzia de prédios,
certo número de apólices e decide permanecer na casa de Matacavalos onde viveu
os dois últimos anos de casada. Com dona Glória e Bentinho, seu único filho,
viviam também mais dois viúvos, seu irmão, tio Cosme, que era advogado e trabalhava
no crime; e prima Justina.
Com seus catorze anos, Capitu era alta, forte
e cheia, morena de cabelos grossos, olhos claros e grandes, nariz reto e
comprido, boca fina e o queixo largo. Seu pai, o Sr. Pádua, trabalhava no
Ministério da Guerra e graças à sorte de um dia comprar um bilhete de loteria
premiado, ganha dez contos de réis e, ouvindo os conselhos da mulher, dona
Fortunata, compra a casa ao lado da família Santiago.
Todo o drama de Bentinho tem início quando
José Dias lembra dona Glória da promessa que fez quando, após perder o primeiro
bebê, promete a Deus que se o próximo filho fosse saudável, ela entregaria o
menino à igreja para virar padre. Após ouvir a conversa do agregado com a mãe,
que diz ver o menino tempo demais pelos cantos com Capitu e que isso
atrapalhará o ordenado do jovem, Bentinho conversa com sua amiga e ambos
prometem que mesmo que ele não consiga convencer a mãe e vá para o seminário,
que eles só se casariam se fosse um com o outro.
Com muito custo e sem conseguir persuadir a
mãe de que não tinha vocação para padre, Bentinho vai para o seminário com a
promessa de José Dias de fazer dona Glória mudar de opinião com o tempo. Lá,
conhece Escobar, um jovem que se torna seu amigo e que também tem a intenção de
abandonar o seminário para seguir com a vida no comércio.
Durante sua ausência, Capitu se torna
presente na casa da família Santiago e conquista o coração de dona Glória,
fazendo a mãe de Bentinho se encantar por ela, acreditando que ela seria uma
boa esposa para o filho. Quando finalmente abandona o seminário, já que a mãe
consegue reverter sua promessa fazendo outro menino cumprir sua dívida com
Deus, Bentinho vai estudar Direito e, cinco anos depois, quando volta para casa
na Rua de Matacavalos, finalmente se casa com Capitu.
Escobar ia bem com seus negócios, se casou
com a amiga-irmã de Capitu, Sancha, e dia após dia durante os anos seguintes os
dois casais fortaleceram essa amizade. Bentinho era ciumento, dedicando um
capítulo exclusivo para confessar que o sentiu em uma noite enquanto Capitu
observava o mar. Quando Ezequiel finalmente nasce, as agonias de Bentinho têm
fim e a alegria que ele sentiu se resume a uma vertigem e loucura e só não
cantava na rua por vergonha.
Anos depois, Bentinho passa a desconfiar da
fidelidade de Capitu, já tendo observado há tempos a grande semelhança de
Ezequiel com seu amigo. Indignada e magoada com a acusação de Bentinho, Capitu
se muda com o filho ainda pequeno para a Europa, e lá vive por muitos anos até
a sua morte. Um belo dia Ezequiel, já adulto, volta para casa, e Bentinho vê
seu antigo amigo ressuscitar dos mortos, fazendo os leitores acreditarem que o
menino realmente era filho de Escobar.
Aos 17 anos aprendi que tudo nessa vida
depende, depende do momento, da emoção, da pessoa, da circunstância. Nunca
podemos dizer nunca ou que fulano não faria tal coisa, às vezes aquele fulano
seria o primeiro a fazer, afinal de contas não sabemos como ele vai reagir.
Logo a minha conclusão sobre “Dom Casmurro” e à famosa pergunta é:
não sei. Não sei pelo simples fato de que não temos provas concretas de que
Capitu realmente traiu Bentinho, ela não disse, ele não viu, ninguém contou
para ele. A narrativa nada mais é do que o ponto de vista de quem acha que
sofreu uma traição, se julgarmos apenas pelos olhos dele ainda assim não
podemos ter certeza, por mais que Ezequiel seja a cara de Escobar essa é uma
narrativa de acordo com o ponto de vista dele. Essa é uma indagação que há décadas
é discutida por leitores, mas que, felizmente ou infelizmente, vai continuar
sendo uma incógnita.
“Dom Casmurro” nos faz viajar pelo Rio de Janeiro
imperial e como boa curiosa por História fui pesquisar sobre as ruas e os
bairros citados na obra. Dentre as curiosidades sobre a cidade, a Rua de
Matacavalos hoje é conhecida como Rua Riachuelo, e está localizada no centro da
cidade. Era conhecida por esse nome devido aos barrancos e atoleiros que tinha,
dificultando a passagem dos cavalos, ocasionando lesões e muitas vezes o
sacrifício dos animais. Tem início na Praça Cardeal
Câmara, na Lapa, e termina na Rua Frei Caneca. Foi uma das principais
vias da cidade na época da Colônia e do Império, por ligar o
centro com outros bairros, como São Cristóvão.
Você já leu “Dom Casmurro”? Comenta aqui em baixo qual é a sua opinião.
A gente se vê no próximo post, até lá!
DOM CASMURRO
AUTOR: MACHADO DE ASSIS
EDITORA: PENGUIN & COMPANHIA DAS LETRAS
PÁGINAS: 400
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