“Bem,
como dizia o Comandante, doer, sempre dói. Só não dói depois de morto, porque a
vida toda é um doer. O ruim é quando fica dormente.”
Publicado pela
primeira vez em 1975, “Dôra, Doralina”
fez parte do clube do livro “Clássicos
brasileiros” da livraria e sebo A
degustadora de histórias (@adegustadoradehistorias),
que infelizmente não consegui finalizar a tempo e participar da discussão, mas
que enriqueceu muito a minha experiência literária.
Maria das Dores,
personagem principal, é quem narra em primeira pessoa sua história, dividida em
três fases. Em uma fazenda distante, no interior do Ceará, Dôra não tem
lembranças do pai já falecido, e é criada pela mãe, a quem chama de Senhora,
uma viúva dura e forte, em uma época que não se demonstrava sentimentos pelos
filhos e o respeito pelos mais velhos era algo indiscutível. Filha única, longe
das festas da vila, sem amigas, sem namorados e completamente alheia ao mundo.
Quando Laurindo, o
filho de uma parenta distante de Senhora, chega à fazenda, em pouco tempo os
dois acabam se casando. Trabalhando esporadicamente medindo terras, Laurindo
vive à custa dos bens da esposa, única herdeira da fazenda Soledade. Os poucos
anos que passaram casados não trouxe alegrias para Dôra. A perda do único filho
que teve logo no nascimento, as bebedeiras de Laurindo, nenhuma demonstração de
amor ou carinho de Senhora pela filha, a descoberta de que a mãe era amante de
seu marido, e o acidente que ocasionou a morte prematura de Laurindo.
Viúva, assim como a
mãe, Dôra decide abandonar o passado e não assume o traje do luto. Emancipada à
força das garras da mãe, a jovem se muda para Fortaleza e passa a viver com
outra parenta de sua mãe, dona Loura, que mantém uma pensão. Aos poucos, Dôra
começa a conhecer mais do mundo e acaba se envolvendo com uma companhia de
teatro de passagem pela cidade.
Feita atriz no susto
para substituir uma que abandonou a companhia, Dôra percorre as capitais do
Norte e Nordeste em diversas apresentações. Quando a guerra começa a interferir
na rotina dos brasileiros, a companhia de Seu Brandini segue para o Sudeste por
navio, percorrendo o rio São Francisco. À bordo do J. J. Seabra, Dôra conhece o
Comandante do navio, um homem galante e cavalheiro por quem ela se apaixona e
com quem decide construir uma vida juntos.
Já no Rio de Janeiro,
Dôra e o Comandante passam a viver uma vida de sonho. Perdidamente apaixonado
por ela, quando bebe o homem fica violento e o ciúme fala mais alto. Envolvido
com o contrabando de mercadorias, é esse o trabalho que sustenta a casa, e
apesar de parecer uma vida pura e extremamente feliz, há também os momentos
difíceis na rotina do casal.
Com várias
reviravoltas em sua vida, Dôra busca a vida de uma mulher independente em uma
época onde isso não era comum (anos 30, 40 e 50), onde idolatrar e ser submissa
ao homem que divide a cama com você é essencial, mesmo que ele agrida você.
Apesar de ter encontrado o verdadeiro amor, e ter sofrido por ele, o
amadurecimento de Dôra acaba sendo uma consequência ao final da história.
Dôra é uma jovem
doce, gentil e sonhadora, uma mulher amorosa e tão firme quanto à mãe em seu
luto e na forma de superar os desafios que aparecem em seu caminho. Apesar dos
costumes serem diferentes devido à época em que se passa, a minha interpretação
do romance é muito mais de tristeza do que de felicidade, muito mais de
sofrimento do que de conquistas tão palpáveis.
“Dôra,
Doralina” é uma narrativa envolvente, que nos apresenta as várias
formas dos brasileiros e nossas culturas, o jeitinho brasileiro do Comandante e
de Seu Brandini de ganhar a vida de forma ilegal, e as histórias reais de
personagens que poderiam facilmente descrever a vida de algum conhecido nosso.
Você já ouviu falar dessa
história? Me conta o que achou!
DÔRA, DORALINA
PÁGINAS: 428
AUTOR: RACHEL DE
QUEIROZ
EDITORA: JOSÉ OLYMPIO