DÔRA, DORALINA – RACHEL DE QUEIROZ

quinta-feira, dezembro 14, 2023

 


 

“Bem, como dizia o Comandante, doer, sempre dói. Só não dói depois de morto, porque a vida toda é um doer. O ruim é quando fica dormente.”

 

Publicado pela primeira vez em 1975, “Dôra, Doralina” fez parte do clube do livro “Clássicos brasileiros” da livraria e sebo A degustadora de histórias (@adegustadoradehistorias), que infelizmente não consegui finalizar a tempo e participar da discussão, mas que enriqueceu muito a minha experiência literária.

 

Maria das Dores, personagem principal, é quem narra em primeira pessoa sua história, dividida em três fases. Em uma fazenda distante, no interior do Ceará, Dôra não tem lembranças do pai já falecido, e é criada pela mãe, a quem chama de Senhora, uma viúva dura e forte, em uma época que não se demonstrava sentimentos pelos filhos e o respeito pelos mais velhos era algo indiscutível. Filha única, longe das festas da vila, sem amigas, sem namorados e completamente alheia ao mundo.

 

Quando Laurindo, o filho de uma parenta distante de Senhora, chega à fazenda, em pouco tempo os dois acabam se casando. Trabalhando esporadicamente medindo terras, Laurindo vive à custa dos bens da esposa, única herdeira da fazenda Soledade. Os poucos anos que passaram casados não trouxe alegrias para Dôra. A perda do único filho que teve logo no nascimento, as bebedeiras de Laurindo, nenhuma demonstração de amor ou carinho de Senhora pela filha, a descoberta de que a mãe era amante de seu marido, e o acidente que ocasionou a morte prematura de Laurindo.

 

Viúva, assim como a mãe, Dôra decide abandonar o passado e não assume o traje do luto. Emancipada à força das garras da mãe, a jovem se muda para Fortaleza e passa a viver com outra parenta de sua mãe, dona Loura, que mantém uma pensão. Aos poucos, Dôra começa a conhecer mais do mundo e acaba se envolvendo com uma companhia de teatro de passagem pela cidade.

 

Feita atriz no susto para substituir uma que abandonou a companhia, Dôra percorre as capitais do Norte e Nordeste em diversas apresentações. Quando a guerra começa a interferir na rotina dos brasileiros, a companhia de Seu Brandini segue para o Sudeste por navio, percorrendo o rio São Francisco. À bordo do J. J. Seabra, Dôra conhece o Comandante do navio, um homem galante e cavalheiro por quem ela se apaixona e com quem decide construir uma vida juntos.

 

Já no Rio de Janeiro, Dôra e o Comandante passam a viver uma vida de sonho. Perdidamente apaixonado por ela, quando bebe o homem fica violento e o ciúme fala mais alto. Envolvido com o contrabando de mercadorias, é esse o trabalho que sustenta a casa, e apesar de parecer uma vida pura e extremamente feliz, há também os momentos difíceis na rotina do casal.

 

Com várias reviravoltas em sua vida, Dôra busca a vida de uma mulher independente em uma época onde isso não era comum (anos 30, 40 e 50), onde idolatrar e ser submissa ao homem que divide a cama com você é essencial, mesmo que ele agrida você. Apesar de ter encontrado o verdadeiro amor, e ter sofrido por ele, o amadurecimento de Dôra acaba sendo uma consequência ao final da história.

 

Dôra é uma jovem doce, gentil e sonhadora, uma mulher amorosa e tão firme quanto à mãe em seu luto e na forma de superar os desafios que aparecem em seu caminho. Apesar dos costumes serem diferentes devido à época em que se passa, a minha interpretação do romance é muito mais de tristeza do que de felicidade, muito mais de sofrimento do que de conquistas tão palpáveis.

 

“Dôra, Doralina” é uma narrativa envolvente, que nos apresenta as várias formas dos brasileiros e nossas culturas, o jeitinho brasileiro do Comandante e de Seu Brandini de ganhar a vida de forma ilegal, e as histórias reais de personagens que poderiam facilmente descrever a vida de algum conhecido nosso.

 

Você já ouviu falar dessa história? Me conta o que achou!

 

DÔRA, DORALINA

PÁGINAS: 428

AUTOR: RACHEL DE QUEIROZ

EDITORA: JOSÉ OLYMPIO


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