JANE EYRE – CHARLOTTE BRONTË

quinta-feira, novembro 30, 2023

 


 

“Jane Eyre” estava na minha lista de leitura há um tempo, mas sempre acabava colocando outros livros na frente. Dessa vez, acabei antecipando a leitura devido a um clube do livro que estava participando, e quando finalizei me arrependi de não ter dado uma chance a ele antes.

 

Publicado pela primeira vez em 19 de outubro de 1847, esse é um clássico que pode ser considerado como leitura obrigatória na minha opinião, apesar de se passar em uma época diferente da nossa, a superação da personagem principal serve como exemplo para muitas mulheres.

 

Jane é uma menina injustiçada, filha única, perdeu os pais ainda muito pequena e não tem nenhuma lembrança dos dois. Criada na casa de seu tio, irmão de sua mãe, o mesmo que em seu leito de morte fez a esposa jurar que criaria a menina como se fosse sua filha. Mas nem sempre as promessas são cumpridas, e Jane sofreu nas mãos dos primos e da mulher que era intitulada sua tia, por ser considerada selvagem demais por ser uma criança e que não era agradecida pela “benfeitoria” da mulher.

 

Sem receber nenhum tipo de carinho e demonstrações de afeição da parte de seus parentes, que renegavam completamente os laços que tinham como se ela fosse uma criatura qualquer encontrada na estrada e que dependia deles para tudo, depois de finalmente enfrentar sua tia, Jane é enviada, com 10 anos, a um colégio interno e abandonada pela família. Sem desejar ter qualquer tipo de vínculo com os parentes, apesar de ainda ser uma criança, Jane fica feliz com seu novo futuro e promete para a tia que nunca mais quer ouvir falar deles.

 

Mas a vida no colégio não é tão boa quanto Jane imaginava. Lá as meninas passavam fome com a comida escassa e ruim que era fornecida apenas por causa da doação de algumas pessoas ricas. As roupas também eram de péssimas condições e morar no colégio era insalubre. Após a morte de muitas meninas devido a uma grave epidemia de febre tifóide, uma comissão foi organizada para que a administração do colégio fosse feita por outras pessoas, e graças a isso, as condições de vida melhoraram, e passou a ser prazeroso fazer parte da instituição.

 

Jane viveu no colégio por oito anos, de aluna passou a professora, e a moça que se tornou estava feliz com o que conquistou. Mas com seus 18 anos ela queria mais, nunca havia saído da região, e queria conhecer outros lugares e outras pessoas. Após publicar um anúncio em busca de um emprego como preceptora, Jane é contratada para educar Adele, uma francesinha que perdeu a mãe, uma cantora de ópera, e que é a pupila do Sr. Rochester, ex-amante de sua mãe.

 

Sempre ausente de sua propriedade e sem querer a responsabilidade de ter que educar uma criança que não é sua filha, Edward Rochester finalmente é apresentado à Jane. Com quarenta e poucos anos possui uma personalidade forte e inteligente, porém é orgulhoso, temperamental, cínico e sarcástico, indo contra a delicadeza e educação de Jane.

 

De acordo com Abigail Heiniger, Edward Rochester, assim como em “A Bela e a Fera”, não é um príncipe, mas uma fera que precisa ser reumanizada.  Apesar do personagem também ser considerado um herói byroniano, uma variante do herói romântico, considerado uma figura solitária, resignada ao sofrimento, apaixonado e com um passado erótico misterioso, a minha opinião é que ele é possessivo.

 

Após salvar o Sr. Rochester de um incêndio em sua cama e guardar segredo do que aconteceu, Jane passa a ter mais contato e se aproxima do patrão, fazendo em pouco tempo a jovem se apaixonar. Edward Rochester trata Jane como se fosse uma figura mística, cheia de encantos e magia, que acaba hipnotizando o homem com suas palavras e seu jeito contido de ser e agir.

 

Com algumas reviravoltas inimagináveis acontecendo em sua vida, o amor que sente pelo patrão é colocado à prova quando Jane descobre, no dia do seu casamento, que ele já é casado. Sua esposa, com problemas mentais e considerada louca (e a culpada por incendiar a cama do marido enquanto ele dormia), é mantida escondida de todos no último andar da casa, e por isso é impossível viver esse grande amor. Durante a noite Jane decide ir embora, sem deixar rastros, tomando o caminho que achava melhor e se afastando de uma vida de infelicidade.

 

Longe da propriedade do Sr. Rochester, sem dinheiro, sem pertences, sem amigos ou parentes a quem recorrer e completamente entregue ao mundo, Jane enfrenta dias frios e chuvosos implorando por um emprego ou um pouco de comida, quando finalmente encontra uma casa em meio a um pântano onde finalmente é socorrida por seus moradores.

 

Os três irmãos, Diana, Mary e St. John Rivers dão abrigo a Jane, e após algum tempo ela passa a dar aulas para meninas na escola criada por St. John e mantida por uma família rica do vilarejo. Mas esse cargo não garante um futuro promissor para Jane, que apesar de estar feliz por fazer algo que gosta e poder ajudar e melhorar a vida de tantas meninas, seu espírito livre deseja mais.

 

É claro que mais uma grande mudança acaba acontecendo na vida de Jane, e o que parecia o vislumbre de um futuro angustiante, acaba trazendo uma surpresa e um lindo reencontro, com um final esperançoso para a personagem.

 

Fazendo a minha crítica à obra, como disse antes, para mim o Sr. Rochester é possessivo e narcisista. Em uma época em que as mulheres dependiam exclusivamente de seus maridos para sobreviver, apesar de buscar sua liberdade, Jane é submissa demais ao patrão. Mesmo sendo casado, Edward obriga Jane a se casar com ele ou, no último caso, fugir com ele e se tornar sua amante, ameaçando usar violência contra ela caso não seja feito o acordo do jeito que ele quer, como podemos observar quando ele fala: "Você precisa ser razoável, ou vou sair do sério outra vez".

 

Ele menospreza Jane em vários momentos, quando quer obrigá-la a usar vestidos e jóias que ela não está acostumada, e a se portar do jeito que ele quer. Os falsos elogios e os “apelidos carinhosos” que ele dirige à Jane são usados como forma de ofender menos, e só quem está muito apaixonado para não enxergar as ofensas nas entrelinhas. Tola e apaixonada, Jane não percebe todo o mal que o patrão fez contra ela.

 

Edward mentiu sua história, escondeu que mantinha uma esposa louca trancada no último andar da casa, e quis usar sua posição social, dinheiro, ira e força física para amedrontar e insistir na situação. Acreditando apenas que ele estava transtornado e que isso era consequência de sua tristeza por estar preso a um casamento sem futuro, Jane se culpa por abandonar o Sr. Rochester e por ter magoado e fazer o homem sofrer mais.

 

O pouco de amor próprio e a sensatez que tinha fizeram Jane ir embora e não aceitar ser amante só porque ele quer, só porque ele pode, porque tem dinheiro e status, e ser completamente submissa, obediente e pertencer a ele como se fosse um objeto qualquer.

 

Acredito que a grande reviravolta da história seja essa mulher que tanto sofreu conquistar sua tão sonhada liberdade e poder escolher viver esse amor, sendo companheira, amiga e amante. Apesar de ter a parte apaixonante e encantadora da descoberta do amor, confesso que a narrativa também me revoltou nesses momentos de abuso de poder do homem. Recomendo a leitura desse clássico que, com certeza, fará você enxergar como era a vida em uma época que parece distante, mas que tinha a mesma luta que nós mulheres enfrentamos hoje: a busca pelo respeito.

 

JANE EYRE

PÁGINAS: 576

AUTOR: CHARLOTTE BRONTË

EDITORA: PRINCIPIS

 

 

 

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