Diva - José de Alencar
quinta-feira, março 22, 2018
O romance Diva, de José de Alencar, foi publicado em 1864, e apesar de
muitos acreditarem ser uma continuação do livro Lucíola, não é. Na
verdade os narradores de cada um dos livros, Paulo e Amaral, são amigos e
trocam cartas contando sobre seus romances.
José de Alencar narra a história de Emília Duarte, ou melhor, Mila,
contado em primeira pessoa, pelo homem que se apaixonou por ela, Augusto
Amaral. Mila é uma adolescente de 14 anos que não permite que as pessoas a
toquem, e devido a uma doença que quase a leva à morte, a família chama o
médico amigo de seu irmão, o Dr. Augusto.
Apesar da dificuldade em cuidar da moça, Augusto se dedica a ela e,
enfim, consegue curá-la. O pai de Mila quis pagar pelos seus serviços, mas ele
não aceitou, pois o que valia era o mérito de ter salvado a vida de uma menina
de família importante.
Após brigas e discussões, a personalidade de Mila demonstra que na
verdade ela é uma pessoa extremamente instável. Augusto se apaixona pela jovem,
mas suas atitudes são incertas, o que acaba deixando o médico desesperado.
Alguns anos se passam e Mila, já com 18 anos, é a moça mais bela da
corte. Nos bailes as mulheres não podiam competir com sua beleza, fazendo
Emília inspirar os rapazes a cortejá-la, provavelmente ainda mais acentuada
devido à fortuna de seu pai.
Ao voltar de uma especialização em Paris, Augusto retorna ao Rio de
Janeiro, e nos bailes tenta cortejar Mila, mas a moça só humilhava e
menosprezava seu salvador, mas mesmo com o orgulho ferido, o médico ainda a
amava.
Mila busca pelo amor supremo, capaz de fazê-la viver em função daquele
homem. Atravessando os salões em busca desse sentimento, Mila é diva, deusa,
rainha, vivendo acima dos outros seres, não que faltasse humildade a ela, mas era
algo naturalmente superior.
Após ajudar uma menina órfã atendendo a um pedido de Mila, Augusto
deixa explícito que a moça rica tem o mesmo valor que a menina pobre, recebendo
pouco pelo seu serviço, afirmando que a quantia era o valor merecido pelo seu
trabalho – lembrando que Augusto não aceitou o pagamento por ter salvado Mila
há alguns anos.
José de Alencar narra, mais uma vez, a vida na corte no século XIX. A
sociedade que é enriquecida com ornamentos, festas, moda e costumes, dando à
narrativa detalhes valorosos, documentando o retrato da época.
Diva é mais um romance que o autor coloca o perfil e as características
da mulher em evidência. Assim como Senhora e Lucíola, Diva também
serviu de inspiração para a novela “Essas Mulheres”, da Record.
Porém, enquanto José de Alencar demonstra o luxo dos salões do século
XIX, o relacionamento de Mila e Augusto é pobre e hipócrita.
Na minha opinião, podemos comparar esse romance entre Emília e Augusto
algo como gato e rato, já que Emília gostava do médico, porém não afirmava que
o amava. Por medo de cair na monotonia, Emília não dava o braço a torcer,
gostando desse jogo de ter atenção, deixando o médico aos seus pés. No entanto,
a moça era grata por tudo o que o médico fez por ela, e o tratava com desprezo
por ter medo de se frustrar.
Alencar mostra ainda, indo contra o jogo de interesses e aparências dos
salões, a pureza, a dignidade, a franqueza e a capacidade de permitir que o
amor supere as barreiras.
Outro detalhe interessante da história é que, quando foi publicado, os
leitores alvo do romance eram aqueles que buscavam entretenimento e que sempre
se identificavam com os apaixonados da obra. Já para os leitores de hoje, o
livro nada mais é do que uma história de amor como testemunho de uma época.
DIVA
AUTOR: JOSÉ DE ALENCAR
EDITORA: ÁTICA
PÁGINAS: 75
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