ÚRSULA – MARIA FIRMINA DOS REIS

quinta-feira, novembro 07, 2024


 

Entre as metas que coloquei para as minhas leituras de 2024 é que daria mais atenção às obras escritas por mulheres e que também acrescentaria à lista mais clássicos da literatura. A primeira posso dizer de boca cheia que vem se realizando, apesar da correria do dia a dia.

 

“Úrsula”, da maranhense Maria Firmina dos Reis, chegou até as minhas mãos por uma indicação durante uma visita ao sebo e livraria A Degustadora de Histórias, aqui em Ribeirão Preto. O comentário foi o seguinte: “esse é um romance bem estilo novela mexicana”, e depois que finalizei a leitura, bem rápida por sinal, entendi o motivo. Publicado em 1859, “Úrsula” é considerado o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil.

 

Úrsula é uma moça órfã de pai desde a infância e sua mãe padece na cama, enferma, entrevada e pobre. O único parente que tem é o tio, irmão de sua mãe, muito temido pelas duas. Juntando tudo isso, os dias de Úrsula não contêm alegrias, mas são preenchidos de muita agonia. Porém a chegada de Tancredo à fazenda muda a história das duas.

 

O escravo da fazenda, Túlio, encontra Tancredo na estrada, desmaiado e ferido, sob um cavalo morto. Se compadecendo da situação, Túlio socorre o cavaleiro e o leva para a fazenda, atitude que se transforma em amizade entre os dois homens tão distintos e que garante a Túlio a sua liberdade, comprada por Tancredo em agradecimento pelo socorro.

 

Tancredo é um rapaz de posses, e apesar do pouco tempo de estadia na fazenda, se apaixona por Úrsula, a cuidadora de seus ferimentos. Assim, encantado pela jovem que acabara de conhecer, Tancredo passa a narrar sua história para que Úrsula possa conhecê-lo melhor. Ele descreve sua vida triste de decepções e amores traídos com o triângulo amoroso formado por Adelaide, Tancredo e seu pai. Esse triângulo é desfeito com a derrota de Tancredo após Adelaide se casar com seu pai.

 

Ao pedir a bênção da mãe de Úrsula para cortejá-la, Luíza B. também conta sua vida de abandono, que aconteceu após seu casamento com o pai de Úrsula ter ocorrido sem o consentimento da família, principalmente de seu irmão, o Comendador Fernando P.. Com a morte prematura e duvidosa de seu marido, Luíza B. desconfia que ele tenha sido assassinado sob ordens de seu irmão e passa a temer qualquer contato com Fernando P.

 

Apesar de ser coadjuvante, outra personagem de grande relevância no romance é Mãe Susana, uma velha africana que narra a Túlio sua prisão e sua vinda para o Brasil, acorrentada e torturada no porão de um navio, a saudade de sua pátria, de sua filha, de seu esposo e da tranquilidade de sua vida em seu país.

 

Entre as idas e vindas da vida, apesar de evitar durante anos o contato com o tão temido comendador, ele se aproxima de Úrsula, e contrariando todo o ódio que jurou ter pelo homem que “roubara” sua irmã, Fernando P. se apaixona imediatamente pela sobrinha, um amor ardente e violento, doentio. De repente outro triângulo amoroso é formado: Úrsula, seu amado Tancredo e seu tio, o Comendador Fernando P.

 

Em “Úrsula”temos uma narrativa sobre o amor trágico entre uma mulher branca e um homem branco, graças à crueldade, à força e à violência do comendador, entremeada pelos dramas dos escravos e pelas questões da opressão das mulheres pelos homens, adquirindo maior relevância que a história pessoal de Úrsula e Tancredo.

 

“Úrsula” entra para a história da literatura nacional por ser o primeiro romance de autoria feminina e feminina negra publicado no Brasil, e ainda, por ser o primeiro romance em que personagens negras expõem, sem a intermediação de um narrador, suas visões de mundo e de liberdade, tornando-se o primeiro romance antiescravista feminino da língua portuguesa.

 

Você já conhecia essa obra? Comenta aqui em baixo!

A gente se encontra no próximo post!

 

ÚRSULA

PÁGINAS: 176

AUTOR: MARIA FIRMINA DOS REIS

EDITORA: PRINCIPIS

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