Razão e sensibilidade, Orgulho e preconceito, Persuasão – Jane Austen

terça-feira, março 17, 2020




Antes mesmo de saber que “Orgulho e preconceito” era uma história de Jane Austen, eu me apaixonei pela obra através do filme interpretado por Keira Knightley e, para variar, perdi as contas de quantas vezes assisti.

Finalmente, alguns anos depois, resolvi dar chance à obra pelo qual foi inspirado, e acrescentei à leitura mais dois títulos de Austen. Hoje a resenha não é apenas de um livro, mas de três. Então se você não conhece essas histórias, se prepare para se apaixonar!

Quando assisti um dos filmes da saga “Cinquenta tons de cinza” e ouvia Anastasia dizendo esperar o homem perfeito aparecer, idealizado pelos personagens de Austen, fiquei me perguntando se os romances da autora seriam tão apaixonantes assim. Preciso dizer que é, sim!

Começar Razão e sensibilidade não foi fácil, confesso. Apesar de estar muito empolgada com a leitura, a história não me conquistou no início e eu me senti em câmera lenta, como se todo o contexto demorasse muito para acontecer.

Acompanhamos a vida de duas irmãs, as personagens principais da história, Elinor e Marianne, que após perderem o pai precocemente têm toda a herança passada para seu meio irmão, filho do primeiro casamento, já que na sociedade da época (estamos falando do século 19) toda a herança do pai passava para o homem da família – e caso não existisse um filho, a herança passava para o próximo parente homem, podendo ser um sobrinho, primo, irmão, etc.

Conseguir um bom casamento sem um bom dote acaba sendo quase impossível nessa sociedade, já que seus bens ditam muito sobre quem você é e com quem você pode se relacionar, sem falar no nome da família e o poder que ela tem.

Após se mudarem para uma casa mais simples, as irmãs começam a ter uma vida social mais ativa, sempre conhecendo pessoas diferentes. Podemos interpretar a personalidade de Elinor como a razão do título da obra, enquanto Marianne é tida como a parte emotiva das irmãs. Enquanto Elinor analisa as situações antes de tomar qualquer atitude, Marianne se entrega de cabeça aos sentimentos.

Elinor se apaixona por Edward, um homem de família rica que está para receber uma herança e que é irmão de sua cunhada, o que pode impedir que o romance com a pobre Elinor dê certo, já que sua mãe não aceita a relação do filho com uma “pobretona”.

Enquanto isso, Marianne conhece Willoughby e acaba se envolvendo com o jovem de uma forma explícita demais para a sociedade da época, deixando claro a todos que existe um relacionamento entre o casal.

Mas contratempos surgem e desilusões amorosas acabam acontecendo, e como toda a vida da sociedade gira em torno de posses e poder, as duas irmãs precisarão lutar para prevalecer seus sentimentos em uma época onde o casamento dita as regras.

Orgulho e preconceito traz mais uma vez duas irmãs no enredo principal, apesar de  existirem cinco filhas na família Bennet. Jane é a irmã mais velha, a que pela lógica deve conseguir casar-se primeiro, mas tanto ela quanto Lizzy sofrem a mesma pressão.

Com a chegada de dois amigos ricos à região, o Sr. Bingley e o Sr. Darcy, sua mãe cria esperanças de que conseguirá, finalmente, um bom casamento para as filhas.

Enquanto Jane é doce e não vê maldade nas atitudes das pessoas, Elizabeth é culta, autoconfiante e possui uma inteligência à frente das mulheres de seu tempo, acreditando que, para se casar, o mais importante é amar o seu marido.

Ao ser apresentadas aos amigos, Jane logo se encanta com o Sr. Bingley enquanto este não consegue tirar os olhos da jovem. Já a natureza reservada de Darcy faz a tensão entre ele e Elizabeth crescer a cada encontro.

Acostumado a ser bajulado pelas moças, tendo em vista seu poder financeiro e por ser considerado um bom partido, Mr. Darcy se apaixona por Elizabeth justamente por ela não ser como as outras, mas sim por ignorar completamente esse estereótipo.

Todo o romance gira em torno de palavras e sentimentos mal interpretados. Claro que o dote e o bom nome da família das moças também são importantes para os casamentos darem certo ou não.

O orgulho de admitir estar apaixonado por uma moça de baixa renda atrasa o relacionamento de Darcy, enquanto Elizabeth acredita cegamente que ele é um homem arrogante e inescrupuloso. Tudo isso faz criar entre os dois um misto de paixão, atração e raiva, tudo ao mesmo tempo.

Além de acompanharmos a saga do casal Elizabeth e Darcy, tendo como coadjuvantes Bingley e Jane, Austen faz uma crítica para a sociedade da época que tem a hipocrisia como base, sempre julgando aqueles que possuem menos contatos com a alta sociedade.

Já em Persuasão, Austen nos apresenta o casal Anne Elliot e Frederick Wentworth que tem uma grande diferença social, já que Anne vem de uma família muito rica, fazendo a jovem a ser persuadida a não se casar com o amor de sua vida por ele não possuir tantos bens.

Após oito anos, Anne ainda nutre o amor por Wentworth, o que a deixou melancólica e apagada durante todo esse tempo. O destino acaba cruzando mais uma vez a vida do casal, fazendo Wentworth ser bem visto pela sociedade, já que agora conquistou riquezas graças à profissão.

Enquanto Anne guarda uma angústia pelas escolhas feitas no passado, Wentworth retém uma mágoa profunda por Anne. Por ser fútil demais e dar importância apenas às aparências e aos bens, a família Elliot se encontra em uma posição inferior, já que seu pai gasta demais. É aí que os papéis se invertem. Agora bem visto na sociedade, Wentworth é aceitável para os Elliot.

Quando os jovens finalmente se reencontram após tantos anos, uma tensão surge entre eles devido às mágoas do passado. O amadurecimento dos dois também é levado em consideração, já que, aos 27 anos, Anne nunca se casou, o que para a sociedade da época a torna muito velha para o matrimônio. Frederick também não se casou, mas para os homens isso não era considerado um problema.

Acompanhamos com Anne e Frederick o amadurecimento de todo esse sentimento que, por mais que tenha sido doloroso no começo, fazendo Anne dar ouvidos à opinião alheia, indo contra sua própria ideologia, e perder o amor de sua vida, traz a esperança de que, nada melhor do que o tempo para cicatrizar algumas feridas e trazer de volta a esperança.

Uma curiosidade em relação à Jane Austen é que, assim como suas personagens tiveram problemas para conseguir um bom casamento devido ao dote, Austen também precisou abrir mão do amor da sua vida, já que os dois não possuíam bens. Você pode acompanhar a história da vida pessoal da autora no filme “Amor e inocência”, título traduzido para o português.

Quanto às três histórias a crítica que tenho a fazer é que elas sempre começam devagar, todo o enredo é apresentado aos leitores de uma forma parada, quase arrastada. E quando tudo o que você esperou começa a acontecer, de repente a história acaba um tanto seca demais.

É quase um “... e eles foram felizes para sempre fim.”, sem uma vírgula no meio de tudo isso.

Com exceção a isso, as três histórias são lindas. Antes de colocá-las na sua lista, abra a sua mente e tenha a consciência de que tudo o que era feito no século 19 hoje parece absurdo para nós, principalmente para os mais jovens.

Recomendo a leitura para que você se apaixone por Austen, por seus personagens, e descubra que um amor romântico bem construído vale a pena!

RAZÃO E SENSIBILIDADE; ORGULHO E PRECONCEITO, PERSUASÃO
AUTOR: JANE AUSTEN
EDITORA: MARTIN CLARET
PÁGINAS: 632


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