Mulheres que correm com os lobos – Clarissa Pinkola Estés
domingo, outubro 18, 2020
Fiquei sabendo da existência desse livro
graças à minha prima Naira, que geralmente me recomenda coisas muito boas.
Depois de um bom tempo finalmente comprei o livro, a minha versão de capa dura,
que achei maravilhoso, e então comecei a leitura.
Estés é uma psicanalista junguiana que
resolveu reunir seus estudos e análises sobre o arquétipo da natureza
instintiva das mulheres dando origem a Mulheres
que correm com os lobos, um trabalho de vinte anos, envolvendo ainda em seu contexto mitos e histórias de vários
lugares do mundo.
Acompanhamos, através de lendas e histórias
antigas, a saga da mulher que, com o passar do tempo, teve seus instintos
selvagens domesticados pela sociedade, na busca pela essência da alma feminina,
sua psique instintiva mais profunda. A autora compara as mulheres com as lobas
e tendo isso como base, narra os contos e faz a interpretação de cada um deles,
em cada capítulo, tentando desmistificar os pontos mais intrigantes e confusos
da psique feminina.
Pode ser que o contexto dessa obra acabe
chocando algumas pessoas, quando, por exemplo, Clarissa fala sobre a força da
vida-morte-vida que é extremamente mal compreendida em muitas culturas
modernas, já que estamos acostumados a ter medo da morte e não compreendemos
que ela faz parte da nossa própria natureza.
Muitas culturas não entendem que “A Morte é
carinhosa e que a vida se renovará com seu auxílio.” Para outras culturas, “A
Morte abraça os que já estão morrendo, abrandando sua dor e proporcionando
alívio.” “Diz-se que ela guia as mãos da parteira (...) e que ainda consola
quem esteja chorando sozinho”.
Para quem foi criada em uma cultura onde a
morte é o fim de tudo, com o tempo e graças a algumas leituras consegui ir
mudando a minha compreensão sobre o assunto e hoje não enxergo mais a morte
como uma culpada, mas como uma consequência de um ciclo. Nesse capítulo, a
autora me fez mudar mais uma vez de opinião, analisando que talvez a morte
realmente seja essa “companheira” natural.
Estés diz ainda nesse capítulo que, se um
relacionamento está em seus suspiros finais, então é preciso deixá-lo morrer,
para poder nascer de novo, e não tem como fugir disso. Para ela, precisamos
parar de encarar vida e morte como opostos, mas sim como forças complementares,
já que quando uma termina a outra começa.
Várias culturas são analisadas através das
histórias passadas de gerações em gerações de mulheres que precisam ser ouvidas
e contadas. “A mulher-esqueleto” fala sobre encarar essa natureza de
vida-morte-vida do amor. Com “O patinho feio” descobrimos aquilo a que
pertencemos. Em “Pele de foca, pele da alma” aprendemos sobre a volta ao lar, o
retorno ao próprio self. “Vasalisa” fala sobre permitir a morte da
mãe-boa-demais. E “O urso da meia-lua” nos ensina a lidar com a raiva.
Na minha opinião, Mulheres que correm com os lobos deveria ser considerada uma obra
de leitura obrigatória para todas as mulheres. Não é um passo a passo que você
deve seguir em cada ponto e em cada vírgula e que vai salvar você dos erros e
perigos do mundo, mas é uma análise profunda da natureza feminina que nos faz
ter consciência de que tudo isso é real, e apesar de muitas histórias serem
lendas, sempre há aquela lição no final com que podemos aprender muitas coisas.
MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS
AUTOR: CLARISSA PINKOLA ESTÉS
EDITORA: ROCCO
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