“Jane
Eyre” estava na minha lista de leitura há um tempo, mas sempre
acabava colocando outros livros na frente. Dessa vez, acabei antecipando a
leitura devido a um clube do livro que estava participando, e quando finalizei
me arrependi de não ter dado uma chance a ele antes.
Publicado pela
primeira vez em 19 de outubro de 1847, esse é um clássico que pode ser
considerado como leitura obrigatória na minha opinião, apesar de se passar em
uma época diferente da nossa, a superação da personagem principal serve como
exemplo para muitas mulheres.
Jane é uma menina
injustiçada, filha única, perdeu os pais ainda muito pequena e não tem nenhuma
lembrança dos dois. Criada na casa de seu tio, irmão de sua mãe, o mesmo que em
seu leito de morte fez a esposa jurar que criaria a menina como se fosse sua
filha. Mas nem sempre as promessas são cumpridas, e Jane sofreu nas mãos dos
primos e da mulher que era intitulada sua tia, por ser considerada selvagem
demais por ser uma criança e que não era agradecida pela “benfeitoria” da
mulher.
Sem receber nenhum tipo
de carinho e demonstrações de afeição da parte de seus parentes, que renegavam
completamente os laços que tinham como se ela fosse uma criatura qualquer
encontrada na estrada e que dependia deles para tudo, depois de finalmente
enfrentar sua tia, Jane é enviada, com 10 anos, a um colégio interno e
abandonada pela família. Sem desejar ter qualquer tipo de vínculo com os
parentes, apesar de ainda ser uma criança, Jane fica feliz com seu novo futuro
e promete para a tia que nunca mais quer ouvir falar deles.
Mas a vida no colégio
não é tão boa quanto Jane imaginava. Lá as meninas passavam fome com a comida
escassa e ruim que era fornecida apenas por causa da doação de algumas pessoas
ricas. As roupas também eram de péssimas condições e morar no colégio era
insalubre. Após a morte de muitas meninas devido a uma grave epidemia de febre
tifóide, uma comissão foi organizada para que a administração do colégio fosse
feita por outras pessoas, e graças a isso, as condições de vida melhoraram, e
passou a ser prazeroso fazer parte da instituição.
Jane viveu no colégio
por oito anos, de aluna passou a professora, e a moça que se tornou estava
feliz com o que conquistou. Mas com seus 18 anos ela queria mais, nunca havia
saído da região, e queria conhecer outros lugares e outras pessoas. Após
publicar um anúncio em busca de um emprego como preceptora, Jane é contratada
para educar Adele, uma francesinha que perdeu a mãe, uma cantora de ópera, e
que é a pupila do Sr. Rochester, ex-amante de sua mãe.
Sempre ausente de sua
propriedade e sem querer a responsabilidade de ter que educar uma criança que
não é sua filha, Edward Rochester finalmente é apresentado à Jane. Com quarenta
e poucos anos possui uma personalidade forte e inteligente, porém é orgulhoso,
temperamental, cínico e sarcástico, indo contra a delicadeza e educação de Jane.
De acordo com Abigail
Heiniger, Edward Rochester, assim como em “A
Bela e a Fera”, não é um príncipe, mas uma fera que precisa ser
reumanizada. Apesar do personagem também
ser considerado um herói byroniano,
uma variante do herói romântico,
considerado uma figura solitária, resignada ao sofrimento, apaixonado e com um
passado erótico misterioso, a minha opinião é que ele é possessivo.
Após salvar o Sr.
Rochester de um incêndio em sua cama e guardar segredo do que aconteceu, Jane
passa a ter mais contato e se aproxima do patrão, fazendo em pouco tempo a
jovem se apaixonar. Edward Rochester trata Jane como se fosse uma figura
mística, cheia de encantos e magia, que acaba hipnotizando o homem com suas
palavras e seu jeito contido de ser e agir.
Com algumas
reviravoltas inimagináveis acontecendo em sua vida, o amor que sente pelo
patrão é colocado à prova quando Jane descobre, no dia do seu casamento, que
ele já é casado. Sua esposa, com problemas mentais e considerada louca (e a
culpada por incendiar a cama do marido enquanto ele dormia), é mantida
escondida de todos no último andar da casa, e por isso é impossível viver esse
grande amor. Durante a noite Jane decide ir embora, sem deixar rastros, tomando
o caminho que achava melhor e se afastando de uma vida de infelicidade.
Longe da propriedade
do Sr. Rochester, sem dinheiro, sem pertences, sem amigos ou parentes a quem
recorrer e completamente entregue ao mundo, Jane enfrenta dias frios e chuvosos
implorando por um emprego ou um pouco de comida, quando finalmente encontra uma
casa em meio a um pântano onde finalmente é socorrida por seus moradores.
Os três irmãos,
Diana, Mary e St. John Rivers dão abrigo a Jane, e após algum tempo ela passa a
dar aulas para meninas na escola criada por St. John e mantida por uma família
rica do vilarejo. Mas esse cargo não garante um futuro promissor para Jane, que
apesar de estar feliz por fazer algo que gosta e poder ajudar e melhorar a vida
de tantas meninas, seu espírito livre deseja mais.
É claro que mais uma
grande mudança acaba acontecendo na vida de Jane, e o que parecia o vislumbre
de um futuro angustiante, acaba trazendo uma surpresa e um lindo reencontro,
com um final esperançoso para a personagem.
Fazendo a minha
crítica à obra, como disse antes, para mim o Sr. Rochester é possessivo e
narcisista. Em uma época em que as mulheres dependiam exclusivamente de seus
maridos para sobreviver, apesar de buscar sua liberdade, Jane é submissa demais
ao patrão. Mesmo sendo casado, Edward obriga Jane a se casar com ele ou, no
último caso, fugir com ele e se tornar sua amante, ameaçando usar violência
contra ela caso não seja feito o acordo do jeito que ele quer, como podemos
observar quando ele fala: "Você
precisa ser razoável, ou vou sair do sério outra vez".
Ele menospreza Jane
em vários momentos, quando quer obrigá-la a usar vestidos e jóias que ela não
está acostumada, e a se portar do jeito que ele quer. Os falsos elogios e os
“apelidos carinhosos” que ele dirige à Jane são usados como forma de ofender
menos, e só quem está muito apaixonado para não enxergar as ofensas nas
entrelinhas. Tola e apaixonada, Jane não percebe todo o mal que o patrão fez
contra ela.
Edward mentiu sua
história, escondeu que mantinha uma esposa louca trancada no último andar da
casa, e quis usar sua posição social, dinheiro, ira e força física para
amedrontar e insistir na situação. Acreditando apenas que ele estava
transtornado e que isso era consequência de sua tristeza por estar preso a um
casamento sem futuro, Jane se culpa por abandonar o Sr. Rochester e por ter
magoado e fazer o homem sofrer mais.
O pouco de amor
próprio e a sensatez que tinha fizeram Jane ir embora e não aceitar ser amante
só porque ele quer, só porque ele pode, porque tem dinheiro e status, e ser
completamente submissa, obediente e pertencer a ele como se fosse um objeto
qualquer.
Acredito que a grande
reviravolta da história seja essa mulher que tanto sofreu conquistar sua tão
sonhada liberdade e poder escolher viver esse amor, sendo companheira, amiga e
amante. Apesar de ter a parte apaixonante e encantadora da descoberta do amor,
confesso que a narrativa também me revoltou nesses momentos de abuso de poder
do homem. Recomendo a leitura desse clássico que, com certeza, fará você
enxergar como era a vida em uma época que parece distante, mas que tinha a
mesma luta que nós mulheres enfrentamos hoje: a busca pelo respeito.
JANE EYRE
PÁGINAS: 576
AUTOR: CHARLOTTE
BRONTË
EDITORA: PRINCIPIS