“Mil dias em Veneza”, de
Marlena de Blasi, foi uma das jóias que encontrei durante uma visita ao
primeiro sebo que entrei na minha vida e onde toda a minha história como
leitora começou. O título me chamou a atenção, a imagem da capa de um pôr do
sol em meio às águas de Veneza também, e para encerrar a atração pela obra tem
a frase “Uma história de amor
irresistível”, uma ótima desculpa para uma romântica como eu!
O ano é 1989, e após
resistir inúmeras vezes a ir para Veneza, Marlena se vê obrigada a visitar uma
das cidades mais românticas do mundo devido ao seu trabalho como chef e crítica
gastronômica, tornando impossível adiar mais a viagem. Ao colocar os pés na
cidade, Marlena ficou completamente seduzida, e seu encanto foi tão grande que
ela decidiu voltar todos os anos.
Desde a primeira visita,
Marlena tinha a sensação de ir a um encontro, e em 1993 o encontro finalmente
aconteceu. Enquanto ela almoçava com amigos, o garçom se aproxima e diz ter uma
ligação para ela. Incrédula de que seja realmente a pessoa que deve atender ao
telefone, ela vai. Do outro lado da linha está Fernando, um veneziano que, um
ano antes, viu Marlena passeando pela Piazza San Marco e se apaixona à primeira
vista pelo seu perfil!
Após alguns meses,
Marlena está mudando de vida, vende sua casa recém reformada por ela mesma, nos
Estados Unidos, deixa seu casal de filhos, já adultos, vivendo suas vidas, e se
muda para Veneza para viver o grande amor que jamais imaginou que viveria.
Taxada como maluca por alguns, Marlena entrega seu coração a um “estranho”,
como ela mesma chamava Fernando, e dá início a uma nova vida em uma cidade
também “estranha”.
O primeiro choque
cultural dói a comunicação entre o casal. Fernando não falava praticamente nada
de inglês, e o italiano de Marlena se resumia a algumas palavra relacionadas à
comida. Há muitos anos Fernando abriu mão dos seus sonhos para trabalhar em um
banco e, por isso, levava uma vida monótona e sem muitos planejamentos e
perspectivas. Já Marlena era mestre em recomeçar e se reinventar. Ele gostava
de tudo muito simples, inclusive a comida. Ela adorava cozinhar pratos
elaborados.
Tantas diferenças
foram descobertas entre eles, dia após dia, porém os dois estavam dispostos a
viver e fazer de tudo por esse amor, e á medida que eles superavam as
diferenças, Marlena ia se familiarizando com as peculiaridades da cultura
veneziana e presenteia seus leitores com narrativas engraçadas e emocionantes.
Quando o avião que
leva Marlena aos braços do seu Romeu pousa em Milão, o comandante que é um
conhecido de Marlena, informa aos passageiros que, em homenagem à americana que
está indo para Veneza se casar, vai tomar a liberdade de cantar a versão em
italiano da canção “Por isso corro demais”, de Roberto Carlos.
Após o apartamento
onde moram, que é de Fernando, passar por uma reforma, o “estranho” começa a
convocar os vizinhos para admirarem o apartamento. Sendo completamente ignorada
por eles e ainda se sentindo uma intrusa, Marlena acredita fazer parte da
mobília daquele apartamento, como uma poltrona estofada com um tecido vintage.
Quando as coisas
começam a tomar forma para Marlena e ela passa a sentir que faz parte da
vizinhança, Fernando tem uma de suas várias crises rabugentas e diz que Veneza
não é exótica para os venezianos, cortando as asas do encantamento de Marlena e
bancando o ciumento, afirmando que ela deve se sentir à vontade com ele e
deixar a cidade “para depois”, já que Marlena não está de férias. Marlena
descobre ainda que, para os venezianos, um pouco de sofrimento torna a vida
mais doce, o que deixa ela aterrorizada e satisfeita ao mesmo tempo,
simplificando em uma frase todo o drama da vida em Veneza.
“Mil dias em Veneza” é
uma narrativa pessoal da vida da própria autora, e apesar da obra se passar na
década de 1990 e me fazer imaginar como era a vida na cidade há mais de 30
anos, ainda é uma linda aventura que encanta os corações mais românticos e nos
faz desejar passear pelas mesmas ruas, mercados, restaurantes e também viver um
grande amor como nos livros – apesar dos perrengues e das diferenças.
MIL DIAS EM VENEZA
PÁGINAS: 232
AUTOR: MARLENA DE
BLASI
EDITORA: SEXTANTE