Há nove anos, em um passeio por uma livraria
em Ribeirão Preto, encontrei “A vida
secreta de Laszlo, Conde Drácula”. Na época, a capa me chamou a atenção; a
contracapa falava que a história se passava em Paris em 1866, e como boa fã de
História decidi comprar o livro para sanar minha curiosidade.
Me lembro que na época, os detalhes eróticos
da história foi o auge da narrativa. Tanto que fiquei apaixonada pela história.
Me lembro também que não entendia muito bem sobre ficção e realidade, sem saber
separar uma coisa da outra.
Hoje a história é diferente. As críticas e os
pontos de vista mudaram. Por isso, a Angélica que falará desse livro hoje será
a jornalista de 29 anos que cada dia mais se descobre feminista.
Roderick Anscombe é um psiquiatra forense,
formado em Oxford, que trabalhou com a mente dos criminosos, dos psicopatas, o
que lhe trouxe material suficiente para seus romances.
Nessa obra, o autor conta a vida de Laszlo, o
famoso conde Drácula. Escrito em forma de diário, os leitores encontram no
livro os detalhes da vida e os segredos do médico.
Paris, 1866. O jovem estudante de medicina,
Laszlo Drácula, está na cidade para trabalhar com o Dr. Charcot, médico que
viria a influenciar Sigmund Freud anos mais tarde, desenvolvendo pesquisas
sobre a medicina psiquiátrica. Em seus trabalhos, são oferecidas aos curiosos
da época, sessões públicas de hipnose realizadas em pacientes com distúrbios
mentais.
Recém-chegado na cidade, Laszlo descobrirá
que sua estadia irá muito além do que os estudos. Após “abandonar” a Hungria,
suas descobertas na medicina o deixam fascinado, e o jovem mergulha em um
universo de loucura.
Entre seus estudos, o reencontro com sua
prima, Nichole, seu amor de infância, fará Laszlo se apossar de um título que
não lhe pertence apenas para manter as aparências na alta sociedade parisiense
e, quem sabe, enfim conquistar o coração de Nichole.
Dando voz aos seus impulsos até então
desconhecidos, Laszlo percebe que possui uma mente muito mais perversa do que
imaginava. Cedendo à sedução de Stacia, uma paciente do hospital que tem uma
vida secreta durante a noite, o médico se entrega aos prazeres da carne e se
descobre um animal.
Entre a paixão feroz com Stacia e o amor de
infância que sente por Nichole, Laszlo se vê divido entre as duas mulheres, e
sente traindo uma quando está com a outra, e vice versa.
Claro que a atitude animal não iria parar por
aí. O médico descobre que sua loucura é tão grande que, para saciá-la, é
preciso seduzir a moça e matá-la, para poder beber o seu sangue.
Vinte anos após o primeiro assassinato,
Laszlo volta à Hungria para ocupar o cargo de seu irmão morto na guerra. Para
receber o título, Laszlo abandona a medicina, se torna Conde Drácula e passa a
administrar o castelo da família e a cuidar de sua esposa, a viúva de seu
irmão.
O segredo do assassinato está escondido em
seu diário, bem como toda sua vida de farsa em Paris. E quando Laszlo
reencontra suas anotações, o monstro dentro dele coça para se apossar de sua
mente. Claro que, uma vez tendo provado o gosto de sangue, mais mortes viriam a
acontecer.
Em meio a traições, violência, mortes e
loucura em pleno século 19, a superstição dos menos favorecidos traz à tona a
presença de um vampiro, que só trouxe tragédia à pequena cidade em que vivem,
matando moças indefesas e abusando de seus corpos, sugando seus espíritos.
Para mim, a narrativa nada mais é do que
revoltante. Em vários momentos, a vontade de estrangular o personagem surgiu. O
cinismo de se achar santo em meio à sua loucura, acreditando que suas atitudes
eram normais ao seduzir, estuprar e matar mulheres inocentes, e ainda deixar o
título de conde falar mais alto, abusando de seu poder.
A narrativa é sim envolvente, mas revoltante.
Como disse antes, a primeira vez que li a obra eu não tinha base nenhuma de
crítica, era apenas uma história sensual que explicava o porquê por trás do
vampiro. Hoje vejo o quanto me irritei com o livro.
Se você ficou curioso com a crítica, leia. Aconselho
que você tenha a sua própria experiência e crie a sua própria opinião.
Particularmente nunca descobri ninguém que tenha lido esse romance que, para
mim, não tem nada de romântico, mas vale a leitura.
A VIDA SECRETA DE LASZLO, CONDE DRÁCULA
AUTOR: RODERICK ANSCOMBE
EDITORA: JARDIM DOS LIVROS
PÁGINAS: 416